top of page
  • Foto do escritorDamaris Schabuder

A cultura do “é melhor sobrar do que faltar" deixa de alimentar 13 milhões de pessoas no Bras

“O séc. XV também viu a ascensão do trinchante, um funcionário cujos deveres limitavam-se à mesa alta. Sua tarefa básica continuava sendo cortar para cada um dos comensais fatias dos pães colocados na mesa pelo despenseiro. Até mesmo o pão era controlado pelo hierarquia; os melhores e mais frescos cabiam ao anfitrião e seus convidados. Era o que se chamava se pain de maine, e sua melhor parte, sem casca, sempre ia para o senhor. Os que se sentavam mais abaixo no salão recebiam pão de três dias. As fatias eram substituídas ao longo da refeição e apareciam ao final para a distribuição entre os pobres.” Banquete, pág.,96, Ed.,2004.

Séc. XXI e a comida ainda sinaliza riqueza, famílias que enfrentaram pobreza no passado, por exemplo, tendem a gostar de mesas fartas, como forma de demonstrar tempos melhores, seguindo a cultura do “é melhor sobrar do que faltar”. Armários e geladeiras cheias, a compra exagerada no supermercado para garantir o suficiente para o mês, preparos exagerados para demonstrar hospitalidade e cuidado com a família, mas tudo isso também está ligado ao status. O gosto pela fartura tem ligação direta e impulsiona o desperdício de alimentos.

Em média o brasileiro desperdiça 40kg de comida por ano, isso tudo vai o lixo, mas poderia alimentar 13 milhões de pessoas. Os alimentos que mais vão para o lixo, por percentual do total desperdiçado, são: arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%). Estima-se que no mundo todo o total de alimentos jogados fora seja de 1,3 bilhão de toneladas. Não só o Brasil, mas o mundo ainda é desigual, esses dados levam qualquer um a pensar o porquê ainda temos a fome matando milhões todos os anos.

Deixamos de alimentar essas pessoas porque 30% dos cerais são desperdiçados, 30% dos pescados, 45% das frutas, hortaliças, tubérculos e raízes, 20% da carne de gado, 20% de legumes e 20% dos lácteos. O descarte está em todos os pontos da cadeia – ele passa pelo campo, indústria, logística, varejo e termina no consumidor, este rejeita aquela fruta ou legume feio, que está mais escuro, mas que pode ser consumido normalmente. Se o comércio sabe que esse tipo de produto será descartado isso é repassado para o produtor e assim continua o ciclo do desperdício.

As consequências também são econômicas, tanto no bolso do consumidor quanto para a economia do país, os 30% desperdiçado gera um prejuízo de cerca de US$940 milhões por ano, cerca de R$3 trilhões. São desperdiçados também valores ambientais, sociais e culturais. Utilizamos água, energia, terra, logística, trabalho e muitos outros recursos, tudo jogado fora. Quando o preço de um alimento aumenta pode ser o mercado tentando fechar essa conta.

Sem dúvida, quem paga essa conta é o consumidor. Em longo prazo com sua mudança de comportamento é possível reduzir o custo da produção, e isso significa acesso a alimentos mais baratos e consciente da compra.

21 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page