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  • Foto do escritorDamaris Schabuder

Comida: instrumento de diferenciação social


As formas ou estilos de consumo contribuem fundamentalmente para o conhecimento do significado atribuído pelos grupos às suas ações e da própria imagem social do grupo. Descrevendo o modismo, as reportagens contribuem para uma epidemia de hábitos e prazeres novos. E muitos se esforçam por imitar o discreto charme da burguesia, nem que seja gastando todo o seu salário para entrar e degustar as iguarias dos templos gastronômicos.

Tudo ao redor é para diferenciação social, a comida no prato, o pão que se come, o bom gosto, a etiqueta na mesa, a estética do alimento, a mesa posta, tudo para manter o mundo das aparências. Se você influencia o gosto de uma pessoa, você influencia desde a escolha de um prato, uma bebida, até a decoração da casa, a religião, as opções de lazer e vão se formando grupos e mais grupos que procuram incessantemente produzir distinção das categorias populares e se aproximar da burguesia propriamente dita. “A mesma cultura que une e intermedia a comunicação é a cultura que separa ao se tornar um instrumento de distinção e que legitima as diferenças.” BOURDIEU,1998,p.11.

Amartya Sen ganhou o prêmio Nobel de 1998 em parte por seu trabalho em demonstrar que a fome, nos tempos modernos, não é tipicamente o produto de uma falta de alimentos, mas sim, frequentemente gerada a partir de problemas nas redes de distribuição de alimentos ou de políticas governamentais no mundo em desenvolvimento. Sua maior contribuição é mostrar que o desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, como também segurança, liberdade, habitação e cultura. "Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão".

A fome social é colocada pela sociedade. Comer e beber sempre foram uma forma de exibicionismo e ostentação de poder diante da sociedade e do mundo. Grande parte dos encontros sociais acaba em comida ou geralmente ela está presente, sem ela o indivíduo não faz parte da sociedade. A educação do gosto, a reeducação alimentar, a associação de estímulos prazerosos ou aversivos a cheiros ou aparências, demonstram como estamos sujeitos às circunstâncias, ao convívio, às identificações, aos acondicionamentos.

O Código Penal, quanto ao suicídio, no artigo 122 prevê apenamento a terceiros apenas nas hipóteses de terem auxiliado a vítima mediante indução ou instigamento ao cometimento trágico. Não há, porém, previsão criminal para outras formas de induzimento ao suicídio moral ou social, seja na legislação nacional, seja em tratados internacionais. Caso existisse haveria um grande julgamento devido aos atos ilícitos do Governo, dos indivíduos, das regiões e dos países. Marginalizar é uma espécie de indução ao suicídio social. Quando o Estado e a sociedade civil nega ao cidadão um prato de comida, um lar, um trabalho e, portanto, a própria condição do ser humano à existência social, nega-se a própria vida. Garantir esse direito parece, às vezes, fugir do espírito capitalista.

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